Foto: Fachada da escola de gastronomia Instituto Gourmet, no Rio de Janeiro
Muito tem se falado sobre as pessoas que passam fome, principalmente após a pandemia de covid-19. A fome é um conceito facilmente compreendido. Todo mundo entende que, grosso modo, é quando a pessoa não tem o que comer. Mas você sabe o que é a “insegurança alimentar”? Para explicarmos essa expressão, temos que remontar ao período pós-Segunda Guerra Mundial, quando seu extremo oposto, o termo militar “segurança alimentar”, foi cunhado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations). À época, um país seria forte internacionalmente quando fosse autossuficiente, tanto em armas quanto na capacidade agrícola de abastecer a própria população. Em 1974, com a Conferência Mundial da Alimentação da FAO, “insegurança alimentar” passou a explicar a falta de acesso à comida no mundo, considerando todos os problemas de abastecimento, disponibilidade e inflação dos preços dos alimentos. Hoje, o quadro de insegurança alimentar diz respeito ao indivíduo que não possui acesso físico, econômico e social a alimentos saudáveis e de qualidade para fazer todas as refeições necessárias.
Foto: Algumas das quentinhas distribuídas em uma das ações da OSC A Nova Chance
No âmbito do acesso à alimentação, criou-se as seguintes categorias, na tentativa de classificar a situação de um determinado indivíduo:
1) SEGURANÇA ALIMENTAR – 41,31% dos brasileiros
Quando se tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.
2) INSEGURANÇA ALIMENTAR LEVE – 28% dos brasileiros
Quando há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro, com qualidade inadequada resultante de estratégias que visam não comprometer a quantidade de alimentos.
3) INSEGURANÇA ALIMENTAR MODERADA - 15,2% dos brasileiros
Quando há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos.
4) INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE - 15,5% dos brasileiros
Quando há redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos.
Segundo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), o combate à fome é um desafio global. O ODS 2 defende o fim de todas as formas da fome e desnutrição até 2030, especialmente aquela que afeta a infância, destacando a importância da agricultura sustentável. Os fundamentos que nos permitem determinar os níveis de segurança alimentar são:
Disponibilidade
Refere-se à produção, às importações, ao armazenamento e também à ajuda alimentar entendida como uma transferência no caso de necessidade, seja a nível local ou nacional.
Estabilidade
A insegurança alimentar pode ser transitória, devido a questões relacionadas ao caráter estacional das campanhas agrícolas ou ao caráter cíclico das crises econômicas. Para evitá-la, o armazenamento é importante.
Acesso
A falta de acesso aos alimentos pode ter razões físicas (quantidade insuficiente de alimentos, isolamento das populações), ou socioeconômicas (preços elevados, falta de recursos monetários).
Consumo
O consumo de alimentos deve se relacionar às necessidades nutricionais, mas também às preferências alimentares.
Segundo a ONU, atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo está subalimentada. Isso equivale a um total de 815 milhões de pessoas. A previsão é que este número chegue a dois bilhões de pessoas em 2050, se nada for feito. Como chegamos nessa situação? São várias as causas, como: a degradação dos solos, escassez de água, poluição atmosférica, mudanças climáticas, explosão demográfica, crises econômicas e problemas de governança.
Foto: Matéria do G1 Economia, com base no estudo da Rede PENSSAN (https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/09/14/tres-em-cada-dez-familias-brasileiras-nao-tem-acesso-suficiente-a-alimentos-e-passam-fome.ghtml)
De acordo com um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), divulgado no dia 14 de setembro de 2022, a maior proporção de famílias em insegurança alimentar grave está nas regiões Norte e Nordeste do país. Alagoas é o estado em que essa situação é mais frequente, atingindo 36,7% das famílias pesquisadas. Em segundo lugar, vem o Piauí, com 34,3%, seguido pelo Amapá, com 32% dos domicílios nessa situação. Na sequência, estão Pará e Sergipe, ambos com 30% da população atingida.
Apesar de proporcionalmente atingir mais as regiões Norte e Nordeste, a maior concentração de pessoas que passam fome em números absolutos está no Sudeste, região mais populosa do país. Os dados são liderados por São Paulo, com 6,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, e pelo Rio de Janeiro, com 2,7 milhões na mesma situação. Considerando toda a população em insegurança alimentar, São Paulo também lidera, com 26 milhões, seguido por Minas Gerais, com 11,2 milhões.
Além do grande número de atingidos pela fome, os pesquisadores constataram que o problema se agravou após a pandemia, com queda na renda das famílias e aumento do custo de vida, culminando em seu endividamento. As famílias com renda inferior a meio salário-mínimo por pessoa estão mais sujeitas à insegurança alimentar moderada e grave e boa parte delas não foi contemplada pelo Auxílio Brasil, política pública de assistência social oferecida pelo atual governo. E até mesmo as famílias que recebem esse recurso não conseguem utilizá-lo apenas para a compra de alimentos, pois precisam pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água. Consequentemente, as políticas públicas atualmente em vigor não estão dando conta dessas famílias, deixando-as em vulnerabilidade alimentar. Na maioria dos estados do Nordeste, pelo menos 45% das famílias estão endividadas. Em Alagoas este índice chega a 57,5%. Os números também são alarmantes no Amazonas (52,6%) e no Distrito Federal (55,6%).
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